domingo, 20 de dezembro de 2015

Boas Festas


                                                                                                                   foto da net



A estação mais fria do ano tem o seu início este mês. Em paradoxo, os dias começam a ser maiores, tal como diz o ditado popular “Pelo Natal crescem o passo dum pardal”. Se é inverno, se os dias são cinzentos, frios, húmidos e as noites ainda mais compreende-se por que razão as horas diurnas prolongam-se e dão-nos uns momentos de mais claridade. “Janeiro fora uma hora e quem bem contar hora e meia há de achar.” É verdade e, no fim de Janeiro, já se nota alguma diferença na luz do dia.
Para amenizar essas agruras invernosas, promove-se festas, almoços, jantares entre colegas, entre amizades, oferece-se presentes, troca-se prendas de “amigos secretos”, há animação musical nas ruas. Grandes árvores de Natal cheias de luzes coloridas a piscar, Pais Natal gorduchos e barbudos sentados em grandes tronos oferecem o seu colo às crianças onde serão fotografadas, para mais tarde recordar. Os centros comerciais precisam destas atrações  para movimentar as caixas registadoras.

É o mês das doçuras, dos perdões, dos beijos e dos abraços retardados, do rever familiares que estavam longe ou mesmo que, estando perto, parecem estar longe tão longo é o tempo que estão sem se ver.

Deveria ser Natal todos os meses.
 
Festas Felizes para todos com as rosas do Jardim. Em Janeiro aqui nos encontraremos.
Até lá!!!

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O Baile



A música irrompe pela sala em alegres sons oferecidos pelo piano e pela flauta do conjunto musical escolhido para animar a matinée dançante naquele final de tarde.
Não há o fulgor das saias rodadas, dos vestidos feitos à medida, pela modista, especialmente, para levar ao baile, dos sapatos bem engraxados, dos fatos para eles que, coitados, transpiravam enfiados nas camisas “slim-line” de colarinhos engomados e de gravata a apertar o pescoço, dos, já longínquos, anos 60.
Hoje como ontem, aos primeiros acordes, nota-se uma certa demora na abertura do baile.
As damas são mais ousadas, têm mais à vontade e, normalmente, são elas quem primeiro pisa a pista numa dança a duas. Vencida a dificuldade de iniciar, rapidamente o espaço se enche com pares que mexem as ancas, rodopiam os corpos, erguem os braços, afastam-se para depois se enlaçarem e continuarem, freneticamente, ao som dos ritmos latino-americanos tão em moda actualmente e que os músicos atiram para o ar em altos decibéis.

Dança-se e aquece-se. As mãos transpiram e as respirações tornam-se um pouco ofegantes.
Os trajes de agora são informais e tanto elas como eles vestem “jeans” que até podem ter buracos, rasgões, estar coçadas, ter as bainhas puídas de tanto roçar no chão e calçam “ténis” de marca. Elas também se apresentam de sapatos rasos ou de grandes e altos saltos .

Pelas cadeiras colocadas junto às paredes sentam-se eles e sentam-se elas. Também podemos ver elas no colo deles ou eles no colo delas. Se o ritmo agrada, levantam-se, agarram-se, dançam de corpos colados ou afastados como se cada um estivesse sozinho, sem par.
Foi assim, numa tarde dançante num clube recreativo cheio de jovens de várias idades.


foto e texto de Benó



quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Há rosas em Dezembro



Já se acenderam as lareiras.
Há dias de nevoeiro.

Há um manto cinzento que nos cobre, nos envolve, nos arrefece.
Muitos pensamentos nos afligem.
Muitas perguntas sem resposta nos atormentam.

A lenha a arder nos lares atira labaredas que são línguas vermelhas que se abraçam, sobem, largam faúlhas que são estrelas trazendo magia ao nosso olhar e nos mantêm presos ao seu encantamento.

Há muito frio apesar das lareiras acesas.
No fino areal das dunas ainda há corpos estendidos em perfeito prazer que se prolonga por brincadeiras nas frescas  águas do mar azul.

E ainda há rosas em Dezembro.

texto e foto de Benó

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O repuxo


 
 
O repuxo cantava a frescura dum fim de tarde enquanto as damas nas suas saias rodadas pisavam levemente o chão e conversavam sobre os últimos escândalos da corte. As mãos pequenas enfiadas em luvas de renda seguravam o leque francês pintado com figuras de coloridas aves e abanavam os rostos protegidos por chapéus de grandes abas atadas por debaixo do queixo com fitas de cetim. Poderia ser um quadro romântico do sec. XVII ou XVIII em que havia reis e rainhas e muito povo com fome.
Hoje, do terraço onde me encontro, nesta hora admirável de final do dia, em que o sol, por obrigações celestiais, tem de nos abandonar, posso admirar o mesmo repuxo rodeado por canteiros de sebes baixas, ouvir o cantar da água que jorra elevando-se no ar para tornar a cair na bacia de pedra que o circunda mas, não vejo damas de fartas saias rodadas trocando entre si pequenos segredos com risinhos à mistura. Somente os hóspedes deste palácio, agora tornado unidade hoteleira, por ali deambulam em alegres conversas envergando frescos calções e blusas vaporosas que assim o exige a agradável temperatura deste outono algarvio.
Fecho os olhos e a brisa da tarde refresca-me o rosto e os pensamentos.

Não temos rei nem rainha mas o povo continua com fome.
 
foto e texto de Benó

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Sonhos


                          




Nuvens cinzentas como as cinzas frias da lareira ou vermelhas como as papoilas que nascem entre os trigais, rosadas como as rosas do jardim, em vários tons, com vários matizes.  Elas aparecem rapidamente, grandes ou pequenas, em farripas ou em novelos, nos mais diversos formatos, tapam o sol por momentos e desaparecem restituindo-lhe a função de nos iluminar e aquecer.
Podem decorar o espaço celeste com lindas fantasias ou torná-lo escuro e triste como uma noite sem lua nem estrelas.

As nuvens lembram os sonhos que chegam e se instalam no nosso pensar sem o nosso querer mas, tal como elas leves e etéreas, desfazem-se, desvanecem-se ou tornam-se grossos e escuros como os pesadelos em que muitas vezes eles se transformam.

 
                                                                                  fotos e texto de Benó

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O vento chora




O vento chegou molhado, apressado.
Deteve-se à minha porta num choro persistente e incomodativo. No seu lamento conta as misérias que viu durante o percurso que fez até chegar aqui. Vem do norte, atravessou países sem calor, com muros como fronteiras, viu gente sobrevivente que outros ventos seus irmãos levaram para essas terras mais frias que o berço onde nasceram, pais e mães que perderam os seus filhos, filhos órfãos que irão lembrar sempre o calor dos braços maternos. Fome e doença o vento viu.

Abandono, indiferença.
À minha porta, o vento chora num silvo prolongado e agudo que me faz tremer.

foto e texto de Benó

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Sem Espera.




                                                                                                               Di Cavalcanti


Numa correria desenfreada vão-se os dias, as horas. Passa a infância, deixámos de brincar   e dum momento para o outro cortámos as tranças, ultrapassámos todas as dificuldades da adolescência  e somos gente adulta.
É tudo a correr e o relógio sempre a girar não nos dá descanso nem para apreciarmos os bons momentos de convivência com os amigos, o prazer de ler e degustar as letras que formam palavras dos livros que enchem prateleiras e que esperam sossegadamente a hora de os pegarmos e mergulharmos fundo no desconhecido das suas histórias. Nem nos apercebemos que o tempo passa por nós numa corrida louca sem regresso, para levar, muitas vezes, os sonhos e a esperança deixando-nos de mãos vazias num tempo já sem tempo para as encher.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A Arte de Saber Viver



O saber viver é uma arte que nem todos dominam neste universo onde coabitamos e onde é cada vez mais difícil as relações entre os humanos.

Assim como a arte de jogar futebol, de navegar, as artes marciais, a tão importante arte de saber conversar, cada dia mais difícil dado o mutismo em que os jovens caem com o uso do "chat" nas redes sociais, esta também tem de se aprender.

 A arte de saber sorrir, de saber ler, de saber estar à mesa, de respeitar o próximo são ensinamentos que devem ser diários e constantes junto dos jovens de hoje para que os homens de amanhã saibam usar a inteligência aliada à delicadeza e à humildade.

Tudo isto e muito mais é útil e necessário para se aprender também, a mais difícil de todas: a arte de SER FELIZ.

São artes de aprendizagem demoradas que requerem paciência e perseverança de quem ensina e tem a seu cargo  a formação de rapazes e raparigas, abrolhos que serão flores neste jardim da vida onde as ervas daninhas, parasitas e espinhos proliferam em demasia.
 
 
texto de Benó
foto da net

 

 



domingo, 11 de outubro de 2015

Fome





Vieram de longe ou de perto. Tanto faz!

Trazem a fome no bico, podia ser na boca, tanto faz.
São aves, podiam ser pessoas.

No cais, comem os sobejos das refeições dos pescadores. Aqui lutam pelas migalhas que deposito sobre a relva, zangam-se pelos restos de pão que algumas conseguem roubar para, em seguida, num voo rápido o perderem.
 
                                 
São aves mas podiam não ser. Tanto faz.
Abrem e batem as asas e grasnam num som agudo feroz de bico aberto. Fazem pequenas investidas a uma ou outra mais afoita quando se atreve a meter um nico de alimento para o papo. Podia ser a barriga. Tanto faz.

É a fome adulta que as torna violentas. Que sabemos nós, se os filhos no ninho não esperam pelo alimento tão disputado?
Fome dos filhos mais sentida, origem de disputas e escaramuças, guerras, mortandade.

Nem só as aves têm fome.


fotos e texto de Benó
 

domingo, 4 de outubro de 2015

Uma tarde


 

O vento a acariciar as águas calmas do porto de abrigo provoca-lhe arrepios indisfarçáveis. Os barcos mesmo ancorados tremem e agitam-se na tarde serena de outubro. Ao longe, no fim do paredão, o pequeno farol ficará acordado toda a noite na sua função de avisar quem entra e quem sai.
Junto a si, nas pedras submersas onde se apoia, fervilha vida, noite e dia. Sempre.

Os jovens namorados procuram a protecção da sua sombra para se acariciarem na provocação de arrepios e ternuras pela primeira vez sentidas.
Sempre igual e sempre diferente esta água que se agita, treme, nos refresca, nos dá o alimenta mas, também, é madrasta e nos engole.

A deambular pelo cais nas horas quietas duma tarde outonal.
 
foto e texto de Benó

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Companheiros

 

 
 
Livros nas prateleiras, livros sobre a mesa de trabalho, livros sentados nas cadeiras.
Eles são a melhor companhia. Falam connosco, contam-nos histórias, calam-se quando desejamos silêncio, distraem-nos e fazem-nos rir se a tristeza se quer instalar. Não maçam, não são atrevidos, não pedem almoço nem jantar. Não são indiscretos e sabem guardar todos os segredos que gostamos de lhes contar. Não ficam tristes se passarmos um ou vários dias sem os acariciarmos, sem os levarmos connosco, sem dormirmos com eles à cabeceira.
Esperam sempre por nós e sabem abrir os braços quando as nossas mãos mesmo cansadas os afagam e folheiam para fazermos parte das aventuras que nos querem contar sejam elas épicas ou romanescas.

imagem da net
texto de Benó

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O outono

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
Muito se tem escrito sobre o outono.
Muito se escreve sobre o outono.
Muito se há de escrever sobre o outono.
Nunca será demais.
Há sempre alguma coisa que nos apetece dizer sobre esta estação, sobre estes dias de transição entre o calor, transpiração, vento e praias apinhadas de gente  e o fim das férias, a casa vazia sem as gargalhadas das crianças sem o barulho das suas brincadeiras.
Outono.
Começa o despir das árvores, o adeus das andorinhas, o partir das cegonhas, as sardinhas que já chegaram ao fim, os pescadores sem ganhar. É a época das recolhas, das uvas, do mel, dos marmelos, dos figos, das amêndoas.
O vinho.
A marmelada para fazer.
As folhas cobrem os caminhos e são passadeira vermelha onde apetece pisar.
É a preparação para o aconchego dum abafo, para as leituras à lareira, dos ocasos esplendorosos cor de fogo, dos passeios ao fim do dia aspirando a saboreando os cheiros da terra, o odor do mar.
Vou enfeitar-me com um colar de pinhões.
Espero ver os pirilampos.
 
foto e texto de Benó
 
 
 

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Barco em terra

 
 
 
 
 
Barco deixado na areia deserta sem âncora nem velas para navegar.
Ali, só, triste sem timoneiro que o guie e trace o rumo é pouso de gaivotas,alvo das pedras da garotada que vem brincar no fim do dia.
Tomara já a maré grande que o irá libertar daquela prisão sem grades nem cadeados. Prisioneiro dos raios do sol, enfeitiçado pela lua cheia resta-lhe a esperança de que o mar lhe devolverá a sua verdadeira identidade, pois um barco para ser barco tem que estar a navegar, tem que ter mestre e leme e ancora para fundear.
Precisa saber o Norte para partir na busca de novas terras, novos portos, novas gentes.
Irá ver outros céus, nuvens brancas ou cinzentas ou vermelhas de emoção ao pôr-do-sol, alaranjadas com o alvorecer. Poderá cavalgar nas vagas que os ventos irão formar.
Quer ver baleias e tubarões cortando o verde oceano. Quer tornar a ver o mar prateado cheio de peixes para pescar.
Dentro de água é invencível, nada o assustará.
Tomara já a maré grande que o irá libertar.
 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Agosto/setembro








Ouvem-se gargalhadas, frases soltas, perguntas feitas que ficam sem resposta entre uma bica e um pastel de nata ou um galão e uma tosta mista, na esplanada do largo da vila, onde os diálogos acontecem duma mesa para outra e as palavras são dispersas pela brisa que gosta de aparecer naquelas horas matinais.
À noite, nas salas dos restaurantes onde por vezes faltam mesas, aparece um tocador que poderá ser de gaita, de acordeão, de guitarra ou até de saxofone que, com músicas alegres e festivaleiras entretém e anima o espaço onde o sussurro das conversas é acompanhado pelo tilintar das facas e garfos.
Amanhã, muda o executante, muda o instrumento. Vêm de longe, já percorreram outras terras, tocaram para outros ouvintes, musicaram outros jantares. Há sempre alguém generoso na oferta de alguns euros.

Agosto continua a ser o mês mais movimentado para quem vive e sobrevive do turismo nestes recantos algarvios.
Mas agora, setembro chegou e com ele vem também aquela calma outonal que convida a longos passeios no areal ao fim da tarde quando o sol já é morno e diz – até amanhã -mergulhando nas calmas águas verde azuladas do nosso mar. Mar que, sem pressa e preguiçosamente, nessas horas sem hora, na indefinição entre o dia e a noite, deixa rolos de espuma branca na praia quase deserta criando a ilusão dum bordado a enfeitar o saiote duma varina.


quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Ferrugem




Objeto esquecido, isolado, abandonado mas sempre útil quando as chamas irrompem por perto. Foi talvez a falta de manutenção, o desleixo, o deixa andar que deu a esta boca de incêndio completamente enferrujada o aspeto de velho, dir-se-ia inoperável.

As peças enferrujadas partem facilmente, deixam de ser úteis, deitam-se fora, substituem-se por outras novas prontas a corresponderem às nossas necessidades imediatas e, rapidamente, esquecemos as outras que já não nos servem.  Não nos ocorre que se estragaram, possivelmente, pela nossa incúria, pela falta das limpezas que deveriam ter sido feitas atempadamente e não foram, pela falta duma boa utilização.

Será, talvez pelas mesmas razões, pela falta de atenção, de cuidados que os relacionamentos entre os humanos se deterioram, apresentam ferrugem, quebram, poem-se de lado?


sábado, 29 de agosto de 2015

Paixões e traições

 
No sossego do meu recanto, já com o sol a baixar,  pousado sobre a espreguiçadeira onde repousa uma fofa almofada, um livro espera-me. 
Morfeu também.
Não sei a qual me vou entregar primeiro.
Aconteceu hoje neste jardim d'abrolhos.
 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Brincadeiras no céu

 
 
 
 



 
Formavam uma unidade como se fossem vários corpos unidos num abraço infinito, indestrutível. Caminhavam vagarosamente saboreando as delícias de estarem juntas, puxadas pelos cavalos alados invisíveis ao fim da tarde.

Repentinamente, do que parecia uno, um bocado soltou-se e com o rubor próprio de quem sai dos braços dum amante fogoso, foge, corre e espera ser apanhado para, novamente num abraço já nocturno se ligarem e tornarem a fundir num corpo só.
Nuvens apaixonadas em alegres passeatas sobre este espelho líquido onde se olham e pavoneiam.

fotos e texto de Benó

domingo, 16 de agosto de 2015

Gaivotas em terra


São pássaros do mar, habituados aos ventos e suas correntes, às brancas espumas da maresia, marujos de docas e cais onde restos de peixes caídos de algum cabaz das traineiras lhes servem de refeição. Pousadas sobre as águas dos mares ora calmas ora onduladas, passeiam-se e embalam-se.

Juntam-se em grupo para conversar na encosta da arriba frente ao mar.
Ouvi dizer que são prenúncio de tempestade quando sobrevoam terra com o seu forte grasnar. Ou sinónimo de fome, penso eu.


foto e texto de Benó

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Verão


 
 
Chegam às revoadas, em bandos como as aves de arribação. Pousam em esplanadas, invadem restaurantes, falam alto, gritam com os mais pequenos que correm soltos das mãos adultas como potros indomados.

São os turistas de verão que chegam às terras do sul onde todos os dias o sol aquece, as noites são cálidas e a água do mar refresca os corpos que se desejam.

Andam à vontade pelas ruas olhando aqui e ali, distraidamente, pois sabem que o podem fazer nestas terras serenas de gente confiável e de sorriso fácil. Entram e saem nas lojas dessas ruas onde se lhe oferece toda a panóplia de artigos para levarem como recordação quando as férias terminarem.  Desde o íman para a porta do frigorifico à “tcherte” com dizeres ou imagens de futebolistas, das praias, dos monumentos e por aí fora, encontram-se nas lojas dos “suvenires”, dos “recuerdos”, uma junto à outra, muito iguais entre si, onde jovens estudantes arranjam emprego neste intervalo entre exames e aulas para praticar conversação dos idiomas estudados no último ano escolar. 

Correm mais euros entre os dedos dos comerciantes.

Os dias são mais coloridos, as noites mais musicais, o areal das praias mais dourado e os corpos vão-se tornando mais morenos, da cor das espigas já ceifadas.
Há mais alegria no ar.
 
foto e texto de Benó
 
 


sábado, 18 de julho de 2015

Coração inerte

                                                                                       foto de Vanda Rita Oliveira


Na vazante, quando o mar se encolhe e se retrai oferecendo-nos um vasto areal, ela ali está, a imponente caldeira, abrigo de lapas e mexilhões, burgaus e ouriços. 

Quando eu era mocinha loura e traquina, sempre à procura do desconhecido, corria pela praia na esperança de encontrar estrelas tremeluzentes que tivessem caído do alto, daquelas alturas tão infinitas que, no meu pensar infantofantasioso nem o maior dos gigantes lá chegaria. Porem, quando o mar recuava, nas grandes marés , a caldeira de ferro enferrujado, toda esburacada, enorme, era um atrativo para a minha curiosidade. Afoita, metia-me dentro daquele tamanho imenso, na procura de lapas e ouriços que comia crus, ali mesmo, e acabava por esquecer a procura das estrelas, das conchas nacaradas, dos pequenos búzios com que fazia pulseiras para os meus braços e pernas de menina.

Não sei a que senhor pertenceu mas sei que, desde sempre, me habituei a vê-la coberta de areia ou completamente a nu consoante o prazer do mar que a lambia, esse mar que é manso e de águas transparentes mas que, facilmente, pode agigantar-se, ficar branco de raiva e espumar. Ali está, há muitos, muitos anos, despojo duma guerra que não foi da minha vida mas que a deixou na praia da minha infância, de grãos dourados e finos por onde os meus pés descalços corriam e se enterravam, com a alegria própria da criança feliz que sempre fui.

Hoje, continua a ser um atrativo misterioso para a criançada que poderá não gostar do mesmo que eu mas, certamente, aprecia descobrir pequenos búzios e outros seres marinhos agarrados aquele ilhéu de ferro, coração inerte, esburacado, dum navio que cruzou mares, venceu tempestades e agora está coberto de acaramuje e para nada serve.

Quando o verão acontece e o areal é penteado e despenteado pelo vento norte, a caldeira emerge e as recordações afogam-me.

 

                                                                                                                                                                                          

 

 

 

terça-feira, 14 de julho de 2015

Rua molhada

 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

No acabar de um dia chuvoso dum longínquo outono, a rosa vermelha espreita quem passa na rua molhada. São poucas as pessoas que, em passos apressados, ousam sair nesta hora sem hora.
As luzes dos candeeiros refletem-se no chão para iluminar a noite  indecisa que não tarda a chegar.


foto e texto de Benó

domingo, 12 de julho de 2015

Maré cheia.

 
 




O mar encheu. Repentinamente engordou.

Pequenos ilhéus, conchas, o laredo, tudo a água cobriu. Já não há algas nem búzios ou estrelas-do-mar sobre a areia a conversar.

O vasto e infinito oceano está calmo e as sereias entretêm-se a bordar com espuma branca um pequeno rendilhado que vão deixando ao longo de toda praia  como se fosse o bordado dum saiote a espreitar sob a bainha dum vestido de noiva.

Crianças descalças podem chegar e, livremente, correr molhando os pés, pelo dourado areal, sem receio do afluxo da maré tão suave é o seu vai-vem.
 
 
texto e foto de Benó 


sexta-feira, 10 de julho de 2015

Despedida



Para um jovem amigo que partiu rumo ao hemisfério sul.


 
Ventos que vêm, ventos que vão.
Brisas que sopram afagam rostos molhados.

Cabelos pingando água da chuva.
Lágrimas que caem nas mãos que tremem 
Num longo adeus.

Bocas fechadas em sofrimento.
Aves que partem rumando ao sul.
Ondas gigantes em águas tépidas.

Fica a saudade. Fica o amor.
Beijos à espera. Corações abertos.



segunda-feira, 6 de julho de 2015

Passeio no areal

 
 
A lua cheia, gorda, piscava-me o olho  com um sorriso maroto. Fitei-a e apercebi-me dum convite  para um passeio pela praia, por onde os seus braços se espreguiçavam tornando o mar, na sua calmaria, numa extensa planície de luz. 
Aceitei o convite. Como poderia dizer NÃO a quem me piscava o olho e meigamente me envolvia no seu manto de prata fina?
Juntas fomos passear no areal.
Muito conversámos! Ri com as histórias que me contou de quem põe a cabeça nas suas mãos. Quero dizer, de quem anda com a cabeça na lua.
O tempo parecia ter parado.
Já o escuro que estivera oculto se aprontava para fazer a sua invasão estratégica pelo areal fora e retirar a lua do espaço celeste, quando as nuvens, ciosas da luz que dela irradiava, apareceram metediças, feitas em novelos esfarripados, dispostas a anularem aquele esplendor na praia. Antes que a minha amiga gorda e brilhante desaparecesse por completo, enchi-me de coragem e fiz-lhe um pedido. Um pedido que englobasse o mundo inteiro, este mundo redondo que ela tão bem conhece e que está cheio de gentes com vistas quadradas.
 
 
 

Como eu aceitei o seu convite para o passeio, espero que ela satisfaça o meu desejo.
Não revelo o que, com todo o meu querer, lhe solicitei. Quebraria o encantamento.
 
 
fotos e texto de Benó
 

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Nuvens





 






Farripos, farrapos, riscos, círculos, bolas, anjos, diabos tudo é possível ver num céu azul decorado com nuvens brancas leves como flocos de algodão doce, vermelhas como labaredas duma fogueira de St.António, cinzentas como as ratazanas, negras carregadas de água que se despejará nos oceanos ou nas terras secas e sequiosas, sedentas e ávidas de bebida.
São nuvens fantásticas, fantasiosas, fantasmagóricas que habitam os éteres e se revêm nos espelhos líquidos que cobrem a maior parte desta bola grande, redonda habitada por gentes de várias cores,  que nunca se entenderam nem vão entender nestes tempos vindouros.


fotos e texto de Benó

domingo, 28 de junho de 2015

Outono

 
 



 

 Rasgado o véu ilusório da juventude, despida de ilusões
Restam sonhos  tecidos em prateados fios, roupagens de folhas secas.



foto e texto de Benó

domingo, 21 de junho de 2015

Vem ver o mar













Ouves o mar?

Faço por aqui o meu caminhar.

Ao fundo, o seu verde reflete também o azul do céu.

Vês ao longe algumas nuvens brancas? Nada que impeça o sol de romper, de iluminar, de nos inundar.

Anda ver o mar!
Escuta-o. Fala com ele. Talvez ele te diga algumas novidades do seu viajar.

Anda comigo. Deixa o Jardim, por momentos.

Anda ver o mar.
Revoltado, agitado, é sempre diferente o seu marulhar.
Manso, calmo, terno, beija docemente as estrelas-do-mar.

Vem!
Anda ver o mar!

Anda e vem sonhar!

 

 

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Ambições




Voa alto! Ambiciona!

Passa para lá das nuvens. Pesquisa o desconhecido, estrelas, galáxias, cometas. Talvez encontres a tua lua ou quererás tu chegar ao Sol?

Não és Ícaro, eu sei, as tuas asas não são feitas de cera mas as leves penas que cobrem o teu corpo ardem facilmente, por isso, é conveniente escolheres acertadamente a direcção dos teus voos, as metas que pretendes alcançar.

Há muitos sóis espalhados pelos céus azuis da tua existência que podes agarrar e, com eles, criar luz própria sem te queimares.

As asas que te ajudam a voar longe, por paraísos desconhecidos, são braços que abraçam o mundo.

Não te percas.

Voa, voa alto mas não esqueças que és um simples pássaro neste mundo cheio de aves de rapina.   
 
 
foto e texto de Benó