Era assim que enroladinha, ternamente quieta, todas as
manhãs ela esperava que a porta da cozinha se abrisse e lhe fosse servido o
pequeno almoço. As suas sopinhas de pão em leite morno deliciavam-na
desde que aparecera no Jardim e fora acarinhada por todos. Numa tigela comprada especialmente para a senhora gata o pão amolecia no leite que ela
lambia até desaparecer a última gota. Mas, antes de iniciar a sua refeição
matinal, a única que vinha tomar a nossa casa, a Tareca, nome com que carinhosamente a batizámos, esfregava-se
languidamente nas minhas pernas como só as gatas sabem fazer.
Foi assim que este ritual se praticou, durante algum tempo,
com prazer para nós e satisfação para ela, suponho. Chegava de manhã, comia, era acariciada, brincava pela relva atrás dos gafanhotos ou dos pardalitos mais jovens. Desaparecia e só regressava no outro dia. Foi fotografada pelas crianças que lhe dedicaram a sua amizade.
Mas a Tareca era gata de rua e, tal como tinha aparecido
assim desapareceu sem um adeus, sem um miado. Ficou um vazio nas nossas manhãs.
Deixou saudades.
foto e texto de Benó