As pedras reunidas sem preferência de tamanho ou feitio são
muralhas aos abrigos construídos num fim de tarde de sol brilhante e quente, em
que os corpos se rebolam nas covas, depois de muitas brincadeiras.
Hoje é inverno, a praia está deserta, apenas os caranguejos
se atrevem a pequenas corridas e as estrelas do mar atiradas para o areal por
algum vómito da maré-baixa jazem inertes na espera que os longos braços da
preia-mar as devolvam ao oceano.As nuvens cinzentas carregadas de água afastaram da beira-mar os mais audaciosos que sempre se afoitam na procura de conchas ou de um ou outro “tesourinho” que a vazante possa deixar nestes dias de maior maresia e que eles recolhem para as suas coleções ou artefactos com que se enfeitam e vendem.
Mas, há sempre alguém mais corajoso, talvez seja mesmo, um
construtor dos abrigos de pedras que, cheio de querer e paixão, ali permanece
na espera do melhor ângulo que o voo duma ave, do salto acrobático dum peixe
para fora de água ou duma vaga orlada de espuma, mais alterosa e caprichosa lhe
possa oferecer.
Há momentos inesquecíveis no percurso de um fotógrafo.
Há pedras que guardam segredos.
fotos e texto de Benó