terça-feira, 29 de setembro de 2015

Companheiros

 

 
 
Livros nas prateleiras, livros sobre a mesa de trabalho, livros sentados nas cadeiras.
Eles são a melhor companhia. Falam connosco, contam-nos histórias, calam-se quando desejamos silêncio, distraem-nos e fazem-nos rir se a tristeza se quer instalar. Não maçam, não são atrevidos, não pedem almoço nem jantar. Não são indiscretos e sabem guardar todos os segredos que gostamos de lhes contar. Não ficam tristes se passarmos um ou vários dias sem os acariciarmos, sem os levarmos connosco, sem dormirmos com eles à cabeceira.
Esperam sempre por nós e sabem abrir os braços quando as nossas mãos mesmo cansadas os afagam e folheiam para fazermos parte das aventuras que nos querem contar sejam elas épicas ou romanescas.

imagem da net
texto de Benó

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O outono

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
Muito se tem escrito sobre o outono.
Muito se escreve sobre o outono.
Muito se há de escrever sobre o outono.
Nunca será demais.
Há sempre alguma coisa que nos apetece dizer sobre esta estação, sobre estes dias de transição entre o calor, transpiração, vento e praias apinhadas de gente  e o fim das férias, a casa vazia sem as gargalhadas das crianças sem o barulho das suas brincadeiras.
Outono.
Começa o despir das árvores, o adeus das andorinhas, o partir das cegonhas, as sardinhas que já chegaram ao fim, os pescadores sem ganhar. É a época das recolhas, das uvas, do mel, dos marmelos, dos figos, das amêndoas.
O vinho.
A marmelada para fazer.
As folhas cobrem os caminhos e são passadeira vermelha onde apetece pisar.
É a preparação para o aconchego dum abafo, para as leituras à lareira, dos ocasos esplendorosos cor de fogo, dos passeios ao fim do dia aspirando a saboreando os cheiros da terra, o odor do mar.
Vou enfeitar-me com um colar de pinhões.
Espero ver os pirilampos.
 
foto e texto de Benó
 
 
 

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Barco em terra

 
 
 
 
 
Barco deixado na areia deserta sem âncora nem velas para navegar.
Ali, só, triste sem timoneiro que o guie e trace o rumo é pouso de gaivotas,alvo das pedras da garotada que vem brincar no fim do dia.
Tomara já a maré grande que o irá libertar daquela prisão sem grades nem cadeados. Prisioneiro dos raios do sol, enfeitiçado pela lua cheia resta-lhe a esperança de que o mar lhe devolverá a sua verdadeira identidade, pois um barco para ser barco tem que estar a navegar, tem que ter mestre e leme e ancora para fundear.
Precisa saber o Norte para partir na busca de novas terras, novos portos, novas gentes.
Irá ver outros céus, nuvens brancas ou cinzentas ou vermelhas de emoção ao pôr-do-sol, alaranjadas com o alvorecer. Poderá cavalgar nas vagas que os ventos irão formar.
Quer ver baleias e tubarões cortando o verde oceano. Quer tornar a ver o mar prateado cheio de peixes para pescar.
Dentro de água é invencível, nada o assustará.
Tomara já a maré grande que o irá libertar.
 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Agosto/setembro








Ouvem-se gargalhadas, frases soltas, perguntas feitas que ficam sem resposta entre uma bica e um pastel de nata ou um galão e uma tosta mista, na esplanada do largo da vila, onde os diálogos acontecem duma mesa para outra e as palavras são dispersas pela brisa que gosta de aparecer naquelas horas matinais.
À noite, nas salas dos restaurantes onde por vezes faltam mesas, aparece um tocador que poderá ser de gaita, de acordeão, de guitarra ou até de saxofone que, com músicas alegres e festivaleiras entretém e anima o espaço onde o sussurro das conversas é acompanhado pelo tilintar das facas e garfos.
Amanhã, muda o executante, muda o instrumento. Vêm de longe, já percorreram outras terras, tocaram para outros ouvintes, musicaram outros jantares. Há sempre alguém generoso na oferta de alguns euros.

Agosto continua a ser o mês mais movimentado para quem vive e sobrevive do turismo nestes recantos algarvios.
Mas agora, setembro chegou e com ele vem também aquela calma outonal que convida a longos passeios no areal ao fim da tarde quando o sol já é morno e diz – até amanhã -mergulhando nas calmas águas verde azuladas do nosso mar. Mar que, sem pressa e preguiçosamente, nessas horas sem hora, na indefinição entre o dia e a noite, deixa rolos de espuma branca na praia quase deserta criando a ilusão dum bordado a enfeitar o saiote duma varina.


quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Ferrugem




Objeto esquecido, isolado, abandonado mas sempre útil quando as chamas irrompem por perto. Foi talvez a falta de manutenção, o desleixo, o deixa andar que deu a esta boca de incêndio completamente enferrujada o aspeto de velho, dir-se-ia inoperável.

As peças enferrujadas partem facilmente, deixam de ser úteis, deitam-se fora, substituem-se por outras novas prontas a corresponderem às nossas necessidades imediatas e, rapidamente, esquecemos as outras que já não nos servem.  Não nos ocorre que se estragaram, possivelmente, pela nossa incúria, pela falta das limpezas que deveriam ter sido feitas atempadamente e não foram, pela falta duma boa utilização.

Será, talvez pelas mesmas razões, pela falta de atenção, de cuidados que os relacionamentos entre os humanos se deterioram, apresentam ferrugem, quebram, poem-se de lado?