Aquela bola de fogo que nos aquece e nos prende nos seus
fogosos braços, que é sinónimo de vida e fecundidade, esconde-se nas águas do oceano
num mergulho suave, sem splash, para ir dar luz e vida a outros seres outras
gentes, desde que o mundo é mundo num ritual diário, desde sempre. A bola de
fogo incendeia céu e mar, pinta labaredas nas cores mais quentes da paleta
divina onde, há poucos momentos, só o azul era cor e, dá lugar a um espetáculo
inigualável presenciado por multidões de diversas origens que ficam estarrecidas
ante a beleza daquele momento em que o dia já não o é, nem a noite ainda é.
Para culminar, as aves calam-se, o vento abranda o seu queixume
e as palmas irrompem num vibrante aplauso à despedida do sol, ali, no fim do
mundo. Erguem-se taças borbulhando de líquido que se bebe entre risos e
abraços.
E os espectadores mais atentos e místicos ouvirão,
certamente, o burburinho provocado pelos deuses que, naquela hora, se reúnem
nas salas cavernosas das profundezas do oceano.
Diariamente, no Cabo de S.Vicente.