quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Pescadores

Sossego e paz eram os seus sentires naquela manhã clara em que tinha decidido sair, apanhar ar, desanuviar a cabeça.
Andava no ar aquele cheiro especial da beira-mar quando o mar se encolhe e mostra o verde dos limos que cobrem as pedras antes escondidas. Respirou fundo, até encher os pulmões de frescura e o coração de alegria.  
O sol brincava com os bocados de nuvens que se tinham esfrangalhado, sabe-se lá porquê, num esconde-esconde de criança e nas rápidas aparições, punha sobre as águas translúcidas daquele seu mar, pequenas manchas prateadas que a obrigavam a semicerrar os olhos tal era a  intensidade de luz.
Ao longe, sobre as lajes polidas e escorregadias, lá estão os vultos do pai e do filho que tentam a sua sorte na pesca. O pai ensina e o filho aprende pois até parece fácil colocar o isco, fazer o lançamento, esticar a linha, enrolar o carreto, mas, os peixes já não se deixam enganar facilmente e o regresso a casa faz-se, quase sempre com o cesto vazio.
Não importa se em vez de escamas trouxeram um "chibo",  pois o que realmente lhes interessa e dá prazer é estar juntos, conversar, rir, partilhar ideias e transmitir saberes. 
Os mais pequenos também possuem  conhecimentos que gostam de dar a conhecer aos mais velhos.
 

foto e texto de Benó

sábado, 8 de novembro de 2014

Rio sem margens



Abro as mãos, volto-as ao sol, ao infinito na tentativa de apanhar a luz deste dia calmo.
Que recolho? O vazio.
Enterro as mãos no areal, sinto a frescura do mar e quero retê-la mas, ela como a areia escapa-se entre os dedos. O que fica? Nada.





Tento pensar e as ideias são como águas agitadas dum rio correndo sem margens. Afastam-se, diluem-se num infinito alagamento.


texto e foto de Benó.