sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Há Gargalhadas no Ar.

                                                                                        

                    
Na esplanada, gozando do morno sol duma manhã outonal, meia dúzia de gentes entregam-se à leitura das notícias da impressa nacional – DN, Público, CM, Expresso, ou noutro escrevinhar  diferente do nosso, Daily Telegraph, Financial Times, Le Figaro. Há um silêncio de biblioteca instalado por entre as mesas, somente afastado por algum comentário verbal de um ou outro caso mais relevante e que o leitor achou por bem salientar.
Num cenário oposto, na sala contígua à esplanada, ecoam gargalhadas. São 3 jovens, duas são brasileiras e a outra é colombiana que conversam e divertem-se lançando para o ar a melodiosa amostra da sua jovialidade e boa disposição como se um rio liberto das suas margens corresse por sobre os seixos do seu leito.
São mulheres novas, a trabalhar neste país distante da sua pátria, longe de pais, irmãos, amigos, mas, que não deixam, por isso, de expressar alegria em gargalhadas claras e bem audíveis, mesmo que o seu amanhã seja incerto e o sol não tenha calor.
É a juventude e a juventude é feminina, com beleza, alegre como um jardim florido onde as borboletas esvoaçam livres e coloridas. Não há lembranças do que deixaram não há apreensões para o futuro. Apenas desfrutam o presente que é hoje, aqui e agora.

Foto da net.
                              

sábado, 19 de novembro de 2016

Espero-te




Quando, amanhã, vieres visitar-me não tragas flores nem chocolates. Traz-me um canteiro de sorrisos e a doçura do teu olhar. Veste a tua blusa de renda e a saia de roda com a qual me enredaste. Traz raios de sol na tua bolsa, aquela azul da cor do teu olhar.
Quando, amanhã, vieres visitar-me não me tragas a travessa de arroz doce enfeitado com canela, deixa que eu me delicie com o doce néctar da tua boca.
Não me tragas brilhantes e maduros frutos, dá-me o brilho do teu sorriso.
Quando amanhã vieres visitar-me não tragas a garrafa de licor, com que brindávamos cada beijo trocado, deixa que me inebrie com as tuas gargalhadas.

Não quero tigelas de marmelada nem fatias de pão de ló, mas, sim, aspirar o perfume adocicado que do teu corpo emana.
Lembras-te daquela tarde de outono? Só nós dois na sala, o vinil rodava no velho gira discos e, no ar, a voz rouca, inconfundível do Cohen e nós dançávamos, dançávamos numa perfeita simbiose dos nossos corpos. 
Vem.
Vamos amar e recordar.
Porás a música a tocar, e os dois, enlaçados num único abraço,  rodopiaremos ouvindo “Dance me to the end of love”, enquanto o mar, lá fora, cantará num chamamento às estrelas-do-mar.
Espero-te!


foto e texto de Benó

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A terra treme





A terra tremeu, a terra treme, longe, noutros mundos.  Onde se erguiam casas há escombros, ruínas. O desfazer de lares que eram abrigos traz as gentes para a rua assustadas, temerosas.  Perante uma causa que desconhecem apelam para o divino, clamam ao além, levam as mãos à cabeça sem perceberem porque tal lhes acontece. Fogem, talvez de si próprias sem saberem se o seu mundo voltará a tremer. Não sabem para onde ir, nem como se proteger.


Abandonadas pelos caminhos ficam as pedras, restos de paredes, de tetos que albergaram risos, alegrias; pedaços de chãos que suportavam o peso das mesas onde não faltava o pão de cada dia, a água, o vinho.


Mas depois de terem perdido todos os seus bens materiais,  restará a esperança, uma corda de salvação para se agarrarem com a força necessária para recomeçar, para refazer os sonhos, uma nova vida, mesmo que a família tenha partido e o isolamento seja a única companhia.
Aprenderam que nunca é tarde.
O querer fará a fénix renascer.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Um cesto de sonhos




No cesto, os novelos de fios coloridos esperam a vez para, malha a malha, ponto a ponto, se transformarem em mantas que irão aquecer os corpos nos dias frios deste inverno que se aproxima. Ao mesmo tempo serão tecidos sonhos e ardentes esperanças nos desejos que ficaram em espera no longo decorrer da vida.

Enquanto a manta cresce, os novelos diminuem e os desejos formam-se num  interminável tecer de ambições com a força do querer e da vontade do ser.

 Azuis, brancos, amarelos, verdes mais escuros ou mais claros os fios dos novelos são o matiz colorido das nossas utopias. Elas viverão connosco enquanto o sol nos aquecer e as estrelas nos fizerem sonhar, enquanto houver primavera em nossos corações, enquanto acreditarmos na justiça e no perdão, enquanto a humanidade se orgulhar da sua qualidade de ser superior.

Deixemos que a manta cresça sem pressa, colorida, a um novelo outro se seguirá e os nossos sonhos perseguirão a busca do arco-íris.
Esperemos que a utopia se torne realidade.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Fogo sobre o mar







Céu em fogo sobre o mar no outono da nossa existência.

As nuvens vermelhas lembram as paixões que se incendeiam, enovelam e sobem como labaredas duma fogueira para o espaço livre, etéreo, pairando sobre o mar que as refresca e as acalma.