Foste semente caída pelo chão. Arrastada pelo vento paraste
esquecida, perdida, sozinha entre as pedras. À beira do pontão ficaste e escondida
permaneceste para não seres engolida pela voragem da chuva e no
esgoto acabares ou no fundo do mar.
O marulhar das ondas, o gemer dos barcos, o trinar dos beijos
dos namorados foram a tua companhia enquanto pequeno grão. Aos poucos, a vida descobriu-te
e ajudou-te a ver o ouro do sol, o azul do céu e o verde do mar. Bastou um
pouco de calor e germinaste, eclodiste, brotaste do escuro. Cresceste,
enfeitaste-te de ramos e folhas, em breve serás árvore e as crianças comerão lapas
e figos torrados à tua sombra enquanto as mães olham o mar e esperam o regresso dos
seus homens nos pequenos barcos de ventres inchados de escamas prateadas.
Texto e foto de Benó