A noite tinha acabado de chegar e não viera só, tinha-se
feito acompanhar da lua enorme, redonda, brilhante que lançava sombras esguias na
rua pouco movimentada.
No adro da igreja brincava-se à vontade, sem receio de
raptos ou desaparecimentos e a criançada olhava para aquele grande circulo
prateado ainda virgem de pegadas humanas e com as mãozinhas abertas de palmas viradas
para cima, dizia:
- Madrinha lua, madrinha lua dá-me um bocadinho de pão com uma
sardinha crua!
Inconscientes do significado do pedido mas cientes de que da
lua não vinha nada a não ser a linda luz prateada que lhes permitia as
especiais brincadeiras noturnas, repetiam a frase rimada e iniciavam as
brincadeiras bem distintas entre rapazes e raparigas. Elas faziam rodas e
cantavam. Eles corriam e escondiam-se enquanto um outro ficava de olhos
fechados a contar – um, dois, três, por aí fora, até 20.
Havia uma verdadeira
movimentação atrás das árvores do adro e nas esquinas da igreja.
Não sentiam sono nem cansaço. Só a voz das mães cujas
conversas tinham chegado ao fim punha termo em tanta correria. Era a hora de
recolher e dormir até que o galo cantasse com o nascer do sol e lembrasse que a
escola estava à espera.
O adro ficava vazio e a velha lua retirava-se por detrás de
alguma nuvem passageira.