Perguntei aos narcisos porque tinham vindo tão cedo se nem
as frésias nem os crocus tinham chegado. Tão entregues estavam a admirar a
sua beleza que não obtive resposta. Peguei num livro e sentei-me desfrutando do
prazer morno dos últimos raios de sol deste dia de fevereiro. Coloquei-me um
pouco afastada daquelas flores vaidosas. O som dos melros empoleirados nos
longos braços da araucária, no chamamento das fêmeas, fazia-se ouvir e serviria de acompanhamento musical, sem me incomodar
ou distrair da leitura, pensei.
Puro engano. Os malmequeres começaram a conversar, melhor
dizendo, a discutir quem teria o branco mais niveo, mais puro, quem teria mais
pétalas de bem-me-quer. Discussão que não levaria a nenhuma conclusão e que só
terminaria com a chegada das rosadas boas-noites exalando o seu adocicado
perfume abrindo-se para receberem o beijo de despedida do sol. O jasmim não se
fez esperar e fazendo prevalecer a sua altura e o seu estatuto de trepadeira
impos silêncio no canteiro.
O dia chegava ao fim.
Em breve a noite estenderia o seu manto sobre o jardim e um arrepio
percorreu-me os braços despidos avisando-me das horas de recolher. Não chegara
a abrir o livro e fiquei na dúvida se não teria adormecido ao som das conversas
aromáticas das flores do canteiro.
texto e fotos de Benó