Era apenas mais uma noite invernosa. A chuva lá fora caía
impiedosamente. O vento soprava empurrando à sua frente as folhas jovens que
fragilmente se agarravam aos braços da mãe árvore. Ninguém passava na rua e as
janelas eram olhos entreabertos deixando passar tiras de luz das casas ainda
acordadas.
Como habitualmente em noites de invernia, a luz retirou-se
não se sabe para onde, talvez com frio e o apagão foi geral.
A lareira chispava e iluminava debilmente a sala onde nos
encontrávamos. Com o isqueiro que está sempre à mão, acendemos a vela e brindámos
à claridade que pelas paredes desenhava figuras abstratas executantes duma dança de luz e sombra.
Foi apenas mais um apagão numa noite invernosa em que a escuridão nos convidou à brincadeira habitual de fazer bonecos chineses com as mãos.