quinta-feira, 25 de maio de 2017

A Tareca






Era assim que enroladinha, ternamente quieta, todas as manhãs ela esperava que a porta da cozinha se abrisse e lhe fosse servido o pequeno almoço. As suas sopinhas de pão em leite morno deliciavam-na desde que aparecera no Jardim e fora acarinhada por todos. Numa tigela comprada especialmente para a senhora gata o pão amolecia no leite que ela lambia até desaparecer a última gota. Mas, antes de iniciar a sua refeição matinal, a única que vinha tomar a nossa casa, a Tareca, nome com que carinhosamente  a batizámos, esfregava-se languidamente nas minhas pernas como só as gatas sabem fazer.

Foi assim que este ritual se praticou, durante algum tempo, com prazer para nós e satisfação para ela, suponho. Chegava de manhã, comia, era acariciada, brincava pela relva atrás dos gafanhotos ou dos pardalitos mais jovens. Desaparecia e só regressava no outro dia. Foi fotografada pelas crianças que lhe dedicaram a sua amizade.

Mas a Tareca era gata de rua e, tal como tinha aparecido assim desapareceu sem um adeus, sem um miado. Ficou um vazio nas nossas manhãs.

Deixou saudades.


foto e texto de Benó

7 comentários:

Catarina disse...

Uma gatinha ingrata! : (

Beatriz Bragança disse...

Querida Benó
«Quem parte, leva saudades...»!
Belíssimo texto, apesar da sua simplicidade; ou, deverei dizer por isso mesmo.
Bom fim de semana.
Um beijinho
Beatriz

Tété disse...

Acredito que ela vai voltar.
Sendo gata de rua e estando habituada à liberdade, faz o que realmente lhe dá na cabeça e foi atrás de algum namorado.
Vai ver que numa próxima manhã aí vai ter a sua habitual comensal.
Um abraço.

Maria Rodrigues disse...

Que linda era a Tareca, ficou a foto para relembrar essas doces manhãs de ternura e amizade.
Bom fim de semana
Beijinhos
Maria

Graça Pires disse...

Que delícia, a Tareca e o seu texto. Pode ser que ainda apareça, minha Amiga Benó...
Uma boa semana.
Um beijo.

Justine disse...

Gatos, animais sedutores, misteriosos, independentes, que fazem o favor de nos dar um pouco das suas vidas...se isso lhes interessa! Irresistíveis!
Que a Tareca esteja a ser feliz num outro qualquer jardim!

Ana Freire disse...

Talvez volte...
Ou se calhar... teve gatinhos... e anda meio ausente, para ficar de olho neles...
Adoro estes bichinhos, com o seu espírito livre e independente... e no fundo... eles afeiçoam-se... mas nunca têm dono...
Um texto e uma imagem encantadora!
Beijinhos
Ana