quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ontem e Hoje





Aqui meus pais se casaram.

Aqui fui batizada.

Aqui venho de quando em vez.
O adro que a circunda foi palco de muitas brincadeiras dos garotos nascidos quando o mundo estava em conflito. Ai se brincava e se dançava, se combinavam partidas, malandrices, “assaltos a castelos”, guerras em que as armas não matavam mas, serviam apenas para atacar invisiveis inimigos, com golpes certeiros aplicados pelas mãos dos guerreiros valentes que as empunhavam heroicamente, apesar da matéria prima de que eram feitas, não ser mais de que umas simples cruzetas tiradas do armário da roupa, sem que a mãe visse. Aí se faziam rodas e saltava à corda. Aí se namorava como naquele tempo era possível.
Hoje, nada disso acontece. Os namorados não vão sentar-se no adro da igreja para conversar;as

brincadeiras da garotada são outras, bem diferentes. O adro está em sossego.
Mas a juventude continua a gostar da igreja.


Os motares do MotoClube-Os Corvos de S.Vicente armaram esta colorida e iluminada árvore de Natal.


Parabéns, rapazes

sábado, 3 de dezembro de 2011

Prece



Fala-me de índios e cowboys
De aventuras e desventuras de damas e cavaleiros.
Deixa que recorde D.Quixote e a Dulcineia.
Quero reviver os moinhos de vento que construímos e
Sentir-me princesa num palácio sem portas nem janelas.

Quero voltar a ter sonhos de criança. Rir de tudo e de nada.
Correr atrás das borboletas. Apanhar gafanhotos e pirilampos.
Guardar o sol num frasco de vidro e o granizo numa latinha.


Quero de volta o meu mundo de menina.



foto e texto de Benó

domingo, 27 de novembro de 2011

Descida pr'á Mareta.

Aqui começava a descida agora vedada pelas moitas, paus a servir de cancela e rede ovelheira.




O areal da Mareta à nossa espera, lá à frente, depois da corrida dos 100mts.



Quando crianças descíamos a ladeira, por um estreito carreiro irregular rasgado por regos cinzelados pelas chuvas dos invernos, faziamo-lo saltitando como num jogo de pé coxinho, ora à esquerda ora à direita.
Mais tarde, adolescentes, o mesmo percurso era feito de mão na mão, mais calmamente, pois as conversas obrigavam-nos a várias pausas para nos olharmos olhos nos olhos.
Quando a hora do regresso se impunha a subida era em modo rápido, com a ligeireza própria dos anos verdes que tínhamos e, sózinhos ou em grupo, queríamos sempre ser os primeiros a vencer a ladeira.
As crianças de agora já não descem por essa vertente. Foi-lhes negado o prazer de ir para a praia a correr e a saltar por um caminho natural onde se ouviam as cigarras e os grilos à desgarrada, onde se cheirava a esteva e rosmaninho.
Está vedado o acesso que há décadas usufruíamos, com rede e arames.

Limitemo-nos ao alcatroado.



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Nuvens

Incendeiam-se. Correm. Cavalgam sobre montros já formados ou ajoelham aos pés de anjos imaginados.





Escurecem o céu tornando o dia em noite sem luz, são negras, medonhas.



Transparentes, douradas ou prateadas, cheias de água ou de cor são esguias e elegantes, caprichosas no deslizar.
São as nuvens passeando sobre o Jardim


Fotos e texto de Benó

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Só mais um




Quando o dia se despede, o sol brinca com os seus raios dourados nos corpos morenos das crianças, aqui no Jardim.


Há um calor doce no seu abraço de “até amanhã” mas, é o momento certo para mais um "só mais um avó".


O dia aquático ficou concluído com o melhor mergulho que teve a nota máxima.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

As pedras que hoje pisei





Hoje andei por aqui.

Pisei as pedras polidas, gastas,

Maltratadas, arrancadas,

Pela areia, pelo tempo, pelo mar.


Guardam segredos de amores e desamores.
Jurados, acabados.

Viram partir marinheiros,
Viram chegar caravelas.
De guerras conhecem os sons,
De santos os seus milagres.

Guardam o reflexo do sol
Abrigam deuses e monstros.

Estas são as pedras que hoje pisei,
Ao entardecer, junto ao mar.




Foto e texto de Benó



terça-feira, 25 de outubro de 2011

Visitas outonais



O vento já tinha ido embora numa despedida silenciosa.

A escuridão no jardim abraçara-se ao sossego e as flores há muito que tinham adormecido no aconchego da terra ainda quente dos raios do sol que há muito partira num cruzeiro de algumas horas.
Ainda acordada, fui repentinamente avisada de que um intruso estava na relva. O meu fiel canídeo ladrava, ladrava, avisando duma presença indesejável nos seus domínios.
É outono e estas visitas silenciosas e espinhosas acontecem com frequência para desatino dos meus sentinelas.
Para que novamente as palmeiras possam dormir, as minhocas programarem a próxima escavação e o sossego reinstalar-se, é preciso que o intruso seja afastado. Assim foi feito com delicadeza e um balde.
Até à próxima visita.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A figueira

Outono, outubro, amêndoas, nozes, batata doce, cheiro a mosto.
A figueira já se despiu, assim como a maior parte das árvores do pomar. Os seus braços semi nus erguem-se aos céus numa prece muda para que a chuva não tarde.
Um figo aqui e ali, uma ou outra folha mais apegada à mãe, está assim a figueira, retrato fiel dum outono que fez um casamento perfeito com o verão.
Até quando durará esta união em que um é totalmente superior ao outro?

Por enquanto, vão-se entendendo e o calor vai tendo superioridade mas, parece-me que o frio e as chuvas não tardarão e depois, os céus chorarão, as ruas ficarão alagadas, as praias desertas e a figueira perderá por completo as suas folhas que atapetarão a terra sequiosa de água e nutrientes.


O verão partirá numa despedida rápida.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Amarilis

O vaso de amarilis outonal Aqui, em grande plano.

Este ano foi assim. Ofereceram-me as suas lindas flores que encheram de colorido um simples vaso.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A marmelada

Como grandes pepitas, os marmelos brilhavam na árvore como se estivessem à espreita de alguém que os fosse colher.


A fina penugem que os cobrira já tinha desaparecido e estavam realmente prontos para a colheita. Seriam, então, transformados na saborosa marmelada, delícia dos mais pequenos.





Eis o resultado dumas horas na cozinha: uma doce e corada marmelada.













sexta-feira, 23 de setembro de 2011

As folhas caiem




No sossego calmo deste primeiro dia de outono, encontro-me aqui, comigo própria.
Num frente a frente ocasional, fortuito, mas repousante.
Libelinhas esvoaçam em meu redor e os pardais gostam das migalhas do bolo do pequeno almoço que, propositadamente, espalhei pela relva.
O Jardim está em silencio mas, se fechar os olhos, ainda posso ouvir os risos das minhas crianças, os chutos na bola, as campainhas das bicicletas, o splash, splash dos mergulhos na piscina, as correrias com o cão.

É outono.

O verão foi deposto.

Mais uma folha do livro da vida que se virou

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Férias Grandes

Os passarinhos voltaram para o ninho; de mais penas cobertos; de músculos mais fortes. Aprenderam a voar mais alto; a fugir a alguns perigos. Aprenderam que nem todo o inseto serve para alimento, que há minhocas mais saborosas que outras e algumas venenosas. O portão de madeira mantém-se fechado sem o trás, catrapás do fechar e escancarar.





E por este caminho não voam as bicicletas nem há dribles de bola. Os skates e as trotinetes foram arrumadas.

As férias grandes chegaram ao fim..

"Férias grandes, avó? Foram bem pequenas".


E o Jardim prepara-se para o cair das folhas que cobrirão caminhos e relva num desejo de sossego e renovação.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Aqui

"Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem,
No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu - eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos,
Aqui sou eu em tudo quanto amei.

Não por aquilo que ~só atravessei,
Não p'lo meu amor que só perdi,
Não p'los incertos actos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei."

Sophia de Mello Breyner Andresen/Dia do Mar


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Um chá



A bela luisa floresceu mas as suas folhas oferecem-me, ao fim do dia, um chá refrescado com uma rodela de limão.


Para que possa continuar a beneficiar do seu verde, terei que podá-la brevemente mas, entretanto, guardarei e secarei as suas folhas para futuras delicias.


Depois, irá novamente cobrir-se de verde e assim seguirá o seu ciclo.




quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Ao fim do dia




O extenso areal percorri na hora mágica do entardecer.

No silencio desses momentos, mergulhei os meus pés nas frias águas do oceano e o olhar nas cores quentes do solpôr.
Senti que as algas me vestiam de verdes esperanças e com os meus braços rodeei rochedos alapados de sonhos.
Sereias encantadas brincavam com os grãos de areia formando colares para cobrirem os seios desnudos.
As ninfas teciam longos véus com a espuma da maré e ao longe, a orquestra do mar executava estrondosos acordes que entonteciam os habitantes das grutas.
Os peixes, numa agitação frenética, escondiam-se e só as anémonas se aventuravam numa dança sem ritmo nem marcação.

Os deuses reuniam-se no cabo e eu percorria o areal deserto, ali tão perto.

domingo, 24 de julho de 2011

O portão de madeira





Forte, ripado, ondulado,
ora aberto, ora fechado,
protetor e divisor
eis o portão do meu jardim.

Todos o ignoram e não o vêm.
Saltam por cima ou de empurrão
afastam-no, transpõem-no.
Seguem o seu caminho.
Correm e escondem-se
Sem dó nem compaixão
Batem-no, maltratam-no

Tem um fecho que o segura
Que o obriga a estar fechado
Não serve de nada, coitado
É pequenote de altura.

Trás, catrapás,
Bate na parede ou no vaso
Vai à frente, volta atrás
Abre-se de qualquer maneira
São os rapazes ou o vento, tanto faz.
Não vai chegar a velho
o meu portão de madeira


Aqui, no Jardim d'abrolhos

sábado, 16 de julho de 2011

Bocados duma paisagem

Apertado num estreito leito

cá em baixo, deslizei rapidamente por entre silvas e,



saltitando sobre rebolos, trazendo pausinhos e folhas mortas, abri os braços e tornei-me mar.

imagens dos barrancos e da praia do Castelejo, no inverno passado, com imagens e texto de Benó









domingo, 3 de julho de 2011

Numa tarde quente



O perfume adocicado dos aloendros.
O cantar estridente das cigarras.
O calor dos lagartos nas pedras do caminho.

Cheira a figos, a uvas.
Vindimas. Searas. Ceifas
Espigas e papoilas.

Mal me queres. Bem me queres
Muito, pouco, nada.
Recordações dum tempo passado.

Numa tarde quente
Os pássaros deixam o ninho.

Aqui, no Jardim d'abrolhos.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A rainha





Foi comprada por ser bicolor. Achei-a linda com as suas pétalas vermelhas a acabar na pureza do branco. Depois, vieram estas todas vermelhas mas, com uma ou outra pétala bicolor a quebrar a monotonia da cor única.

Por fim, já com pouca força para enrubescer, apareceu esta desmaiada, pálida, branca, mas com o coração ainda quente e vermelho de querer ser dália, a rainha dos jardins.


Duma única mãe, sairam filhas diferentes mas todas belas e encantadoras a quem dei toda a minha atenção e cuidados.

















sexta-feira, 17 de junho de 2011

Erva dos burros

Simples, singela, de cor dourada, esta planta é digna de ser vista num jardim banhado pela lua.


As suas flores abrem-se ao crepúsculo e o seu amarelo brilha ao luar.


As sementes contêm o raríssimo ácido gama-linoleico e está a ser estudado o seu uso no desconforto causado pela menopausa e psoríase entre outras doenças degenerativas.


Uma infusão das cascas e das folhas pode aliviar os espasmos da tosse.

O Jardim d'abrolhos, ao anoitecer, brilha com as suas flores.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

QUANDO


Esta lagoa de cor barrenta é o espelho da área que a circunda. Eu chamo-a Lagoa Interior pois, embora esteja perto do mar, as suas águas provêm das chuvas que escorrem pelos declives.

A linda lagoa do Martinhal forma-se QUANDO o mar galga as dunas e invade o espaço aberto até à estrada. O reflexo das margens nas suas águas claras e lisas lembra-nos que....depois da tempestade vem a bonança e a passarada marinha delicia-se com a calmaria e os amantes de fotografia também.



A mesma lagoa ainda não completamente formada mas com ondas alterosos lá ao fundo. Acontece sempre QUANDO o mar, no inverno, avança pela terra adentro.






Após um vendaval do último inverno, no principio da sua formação, com as águas ainda barrentas.


Esta semana no PPP, a M deu-nos a palavra QUANDO para prosar ou versejar ilustrando com uma foto. Recordei o filme português, rodado nos Açores, na época de 50 - QUANDO O MAR GALGOU A TERRA.

Façam uma visita ao blogue dela e apreciem tudo o que lá está.




sexta-feira, 3 de junho de 2011

Carnudas

Flores que se transformarão em fruto comestivel; deliciosos figos. A flor branca, a corriola, tão simples e singela, sente-se protegida pelos espinhos da carnuda e sorri para quem passa.

Esta é a mãe. Um belo exemplar que se encontra no Jardim do Bairro da Liberdade, em Sagres.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Dálias

Aqui, no canteiro das rosas.

Esta bicolor.



Mais pequena, amarela, tendo por trás uma echivéria.

E esta, no seu vermelho, bem alegre.


Há quem chame às dálias "as rainhas dos jardins".Concordo.


Com as suas diversas cores alegram todos os espaços que ocupam.
O Jardim vibra de alegria.





domingo, 22 de maio de 2011

A ameaça

AMEAÇA foi a palavra a ser fotografada, esta semana, para o foto dicionário - PPP -. Muitos foram os participantes, cada um interpretando com a sua sensibilidade, esta palavra guerrreira. A ameaça deste drácula é "assustadora".



Mas temos o nevoeiro que representa uma verdadeira ameaça, não só aos automobilistas como também aos navegantes maritimos.




Outra ameaça a ter em consideração: os picos bem aguçadaos desta piteira da Índia que mantem à distância qualquer mão mais atrevida e que bordejam os caminhos desta terra





Esta foi a foto da minha colaboração.


Os chorões das areias representam, efetivamente, uma forte ameaça ao desenvolvimento de certos endemismos que, só aqui, no micro clima desta "Finis Terrae" , encontram o seu "habitat" preferido, tais como, a alquitira do Algarve, o tojo de Sagres, além do morrião, as armérias, lavateras, entre outras.











sexta-feira, 20 de maio de 2011

Um certo entardecer

O sol, na sua despedida, pintava a terra com as cores mais quentes que encontrou na sua paleta de pintor.

No Jardim, as árvores sorriram e deixaram-se abraçar pelo seu calor já um pouco morno. Não ficaram tristes, pois, sabiam que ele regressaria, algumas horas depois, com a mesma alegria e desejo de brincar ao esconde esconde dos últimos dias.

Aqui, ontem, foi assim.