As redes descansam no cais. Vieram prenhas de peixe
brilhante, reluzente nas suas escamas de prata, ouro para os pescadores, pois é
peixe que lhes põe o pão na mesa, que os veste e torna possível dar aos seus
filhos uma instrução mais cuidada do que aquela que tiveram.
Eles correram descalços pelos areais das praias na procura
de búzios e conchas para brincar; iam à
maré para trazer para casa lapas que serviam de almoço com uma mão cheia de
figos torrados. Brincaram ao cavalinho corrido e os joelhos tinham feridas
constantes que a água salgada desinfetava mas não curava. Passavam frio no
inverno e um prato de papas de milho era, muitas vezes, o substituto do peixe
que não vinha nas redes, nos dias e dias
de vendaval em que o mar zangado, vá-se lá saber porquê, afastava o peixe para
outros mares e o pão faltava na mesa .
Hoje, os seus filhos estudam para doutores, calçam ténis de
marca e não querem saber do mar. Não sabem o que é ir à maré mas sabem
equilibrar-se numa prancha de surf e deslizar sobre as vagas até à praia. Não
sabem o que é alar a rede mas sabem navegar na net. Não saltam ao cavalinho
corrido mas saltam de parapente das altas arribas das nossas praias. É isso e
muito mais o que as redes que descansam no cais lhes proporcionam quando vêm
prenhas de peixe.
Elas também precisam de sol.
foto e texto de Benó
7 comentários:
Linda foto e texto que nos faz pensar. As diferenças entre os tempos, não? Antes o trabalho duro, livres no mar. Hoje, estudo, trabalho engravatados, mas sem liberdade! O que é melhor? bjs, chica
Adorei o texto e a fotografia é muito bonita.
Verdade seja dita que todos nós precisamos de sol :)
e no entanto, um filho de pescador sonhará sempre com o mar
uma Páscoa Feliz, para si Benó
Olá, Benó.
Tanta vida nesta sua prosa encantada.
Tantas mudanças na vida e nos viveres. Evolução, progresso... a manterem-se das mesmas redes que trazem o peixe. Ironias.
Deixo-lhe um beijo doce, com sabor a amêndoas torradas ;)
Sinais dos tempos, Benó!...
Mas talvez o que as redes mais assegurem... será talvez um passaporte daqui para fora... para os filhos dos pescadores... visto a pesca, ser um sector que aos poucos tem vindo a ser desmantelado... ainda desde o tempo, em que o nosso ex-presidente, foi ministro...
A que a quota de pescas... legado da Cristas... veio dar mais uma machadada... no descalabro actual deste sector...
Brilhante o texto, como sempre! E acompanhado de uma magnifica imagem!...
Beijinhos! Bom fim de semana! E uma Feliz Páscoa, na companhia dos seus!
Ana
É tão verdade o que o seu texto nos diz. Faz pensar. Faz querer que as redes voltem à faina e que os meninos brinquem pela areia, mesmo que venham a tornar-se "doutores"...
Um beijo, amiga Benó.
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