Gosto de ouvir o gloterar das cegonhas. Aquele som tão
característico do bater dos bicos transporta-me aos meus tempos de menina.
Recordo, todos os anos, o mesmo casal destas aves voltava
para o seu ninho construído no torre da igreja da minha terra para aí depositar
os ovos e constituir mais uma família.
As cegonhas são monogâmicas e eu, menina, acabava por
entabular conversa com as aves de pernas longas, num tu cá tu lá, como se na
realidade falássemos a mesma linguagem. Via-as, ora uma ora outra, a chocar os
ovos donde sairiam os pequenos filhos e
esperava ansiosamente o aparecimento das penugentas aves para com pulos e saltos bater palmas de
satisfação. Acompanhava o seu desenvolvimento e ficava triste quando, chegado o
fim do verão, pais e filhos partiam para outras zonas mais amenas, onde iriam
passar o inverno. Os filhotes iriam constituir novas famílias e eu ficava com a
esperança de as tornar a ver no ano seguinte e bateria palmas novamente quando
se desse o aparecimento das novas crias.
texto e foto de Benó.
Depois, elas e eu partimos cada qual para o seu destino, com
os pais, para longe. As cegonhas não voltaram para a torre da igreja. Eu voltei
para a terra que me viu nascer.
Fotografei outras cegonhas e voltei a ser menina.
8 comentários:
Texto muito lindo ,adorei e a foto sempre me encanta!Adorei mais essa! beijos praianos,chica
Passei o Natal em Lagos. E vi nas chaminés das antigas fábricas várias cegonhas.
Antigamente só as via no Verão.
Um abraço e bom fim de semana
Um ninho de de cegonha dá sorte ,não dá.
Abraço
São lindas as cegonhas. E a ausência delas deve ser muito curta atualmente ( se calhar algumas até são residentes) porque já em novembro e dezembro as vi em Faro.
Um texto encantador, Benó! São aves muito simpáticas, as cegonhas, e poder liga-las à tua infância é um privilégio!
Querida Benó
Fui no final de 2016, pela primeira vez, a Vila do Bispo. Mas o nosso Algarve é pródigo em proporcionar ninhos a essas aves.Quando vou pela Nacional, de Lagos para Portimão, olhando à direita, são imensas as árvores que ostentam os seus ninhos e eu chamo logo à atenção das minhas netas, porque aqui no Norte, tal não se vê.
O seu poema é uma metáfora bem poética entre a sua vida e a das cegonhas.
Fiquei verdadeiramente comovida!
A vida é assim mesmo...
Por favor, não deixe nunca de escrever.
A sua fotografia está um espanto!
Um beijinho
Beatriz
Quase que posso imaginá-la menina a falar com as cegonhas e a esperar com elas os filhotes...
Magnífico texto e excelente a fotografia.
Um beijo, minha amiga Benó e uma boa semana.
Adorei o texto, Benó!
Costumo ter a presença dessas simpáticas aves, aqui nas traseiras da minha casa.
Frequentes vezes... andam empoleiradas no lombo de umas ovelhitas que por aqui pastam nos terrenos de uma quinta... digno de ser visto, mas infelizmente a lente da minha máquina, não é das melhores, para longas distâncias...
Beijinho! Continuação de uma boa semana!
Ana
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