sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Abrigos





As pedras reunidas sem preferência de tamanho ou feitio são muralhas aos abrigos construídos num fim de tarde de sol brilhante e quente, em que os corpos se rebolam nas covas, depois de muitas brincadeiras.
Hoje é inverno, a praia está deserta, apenas os caranguejos se atrevem a pequenas corridas e as estrelas do mar atiradas para o areal por algum vómito da maré-baixa jazem inertes na espera que os longos braços da preia-mar as devolvam ao oceano.
As nuvens cinzentas carregadas de água afastaram da beira-mar os mais audaciosos que sempre se afoitam na procura de conchas ou de um ou outro “tesourinho” que a vazante possa deixar nestes dias de maior maresia e que eles recolhem para as suas coleções ou artefactos com que se enfeitam e vendem.

Mas, há sempre alguém mais corajoso, talvez seja mesmo, um construtor dos abrigos de pedras que, cheio de querer e paixão, ali permanece na espera do melhor ângulo que o voo duma ave, do salto acrobático dum peixe para fora de água ou duma vaga orlada de espuma, mais alterosa e caprichosa lhe possa oferecer.
Há momentos inesquecíveis no percurso de um fotógrafo.
Há pedras que guardam segredos.

fotos e texto de Benó




5 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Se há amiga. Algumas guardam um romance ou uma época inteira.
Um abraço e bom fim de semana

luisa disse...

Num verão em que visitei algumas dessas praias ventosas e lindas de Vila do Bispo, também vi esses abrigos de pedras. Então estavam ocupados. :)

Graça Pires disse...

Também este seu texto guarda os segredos de quem sabe olhar e ver e depois deixar que as palavras nos deslumbrem...
Uma boa semana, minha amiga Benó.
Um beijo.

Beatriz Bragança disse...

Querida Benó
E há alguém sempre muito atento a tudo quanto a rodeia, nesse lugar de sonho! E reparte com os outros essas maravilhas descritas sempre numa prosa muito poética.Delicio-me a ler o que escreve, acredite!
Um beijinho
Beatriz

Ana Freire disse...

Um maravilhoso fim de tarde à beira mar... na forma de palavras...
Um texto de leitura deliciosa, Benó! Gostei imenso!
Beijinhos
Ana