terça-feira, 19 de maio de 2015

A Tareca





A mesa iluminada pela luz parda do candeeiro de petróleo estava posta.
Parecia não faltar nada. Os copos, os talheres, a garrafa do vinho, a cestinha do pão. A sopa acabada de fazer estava servida nos pratos e o seu odor inundava a divisão onde se encontrava a família já sentada para a ultima refeição do dia.  Só a gatinha ficara na cozinha, a gozar o prazer quente das brasas do lar já quase extinto.

Todos comiam e só se ouvia o tilintar das colheres nos pratos quando a mãe reparou que faltava o jarro da água.
Pediu à filha mais nova para ir à cozinha buscá-lo mas a cachopa, de cabeça baixa, não se mexeu do seu lugar. A mãe estranhando tal atitude tornou a fazer o mesmo pedido.

As lágrimas encheram os olhos pequeninos da criança de cabelos pretos e entre soluços conseguiu dizer:
 -Tenho medo de ir à cozinha porque os olhos da Tareca brilham no escuro, parecem duas brasas.
Ouviram-se as risadas das irmãs mais velhas que deixaram a mocinha meia envergonhada.

O pai levantou-se e pegando na filha ao colo levou-a à cozinha para lhe mostrar que o que a assustava mais não era do que dois olhos de gata, inocente e meiga pronta a receber o carinho dum afago da sua mão rechonchuda e pequena.




um conto contado ao Bloco de Capa Azul

 


2 comentários:

Graça Sampaio disse...

Os olhos dos gatos podem tornar-se assustadores... A menina até tinha razão!

Beijinho.

Fê blue bird disse...

Adoro gatos e este seu lindo conto deliciou-me.

Um beijinho