A mesa iluminada pela luz parda do candeeiro de petróleo estava
posta.
Parecia não faltar nada. Os copos, os talheres, a garrafa do
vinho, a cestinha do pão. A sopa acabada de fazer estava servida nos pratos e o
seu odor inundava a divisão onde se encontrava a família já sentada para a
ultima refeição do dia. Só a gatinha
ficara na cozinha, a gozar o prazer quente das brasas do lar já quase extinto.
Todos comiam e só se ouvia o tilintar das colheres nos
pratos quando a mãe reparou que faltava o jarro da água.
Pediu à filha mais nova para ir à cozinha buscá-lo mas a
cachopa, de cabeça baixa, não se mexeu do seu lugar. A mãe estranhando tal
atitude tornou a fazer o mesmo pedido.
As lágrimas encheram os olhos pequeninos da criança de
cabelos pretos e entre soluços conseguiu dizer:
-Tenho medo de ir à cozinha
porque os olhos da Tareca brilham no escuro, parecem duas brasas.
Ouviram-se as risadas das irmãs mais velhas que deixaram a
mocinha meia envergonhada. O pai levantou-se e pegando na filha ao colo levou-a à cozinha para lhe mostrar que o que a assustava mais não era do que dois olhos de gata, inocente e meiga pronta a receber o carinho dum afago da sua mão rechonchuda e pequena.
um conto contado ao Bloco de Capa Azul
2 comentários:
Os olhos dos gatos podem tornar-se assustadores... A menina até tinha razão!
Beijinho.
Adoro gatos e este seu lindo conto deliciou-me.
Um beijinho
Fê
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