“É a vida. São os anos” Diz a Inácia para justificar as dores
nas cruzes que a atormentam, as artroses nos pequenos dedos das mãos, a
dificuldade que sente em calçar os sapatos.
A vida não foi fácil para a Inácia nascida em pleno rebentar
da II Guerra Mundial, criada na pequena vila onde todos se ajudavam com amizade
e com preocupação pelos problemas que sendo individuais se tornavam colectivos.
Os pés
andavam nus no verão, livres sobre as ervas, correndo sobre caminhos que
serviam homens e animais numa sã vivência e dependência. No inverno, quando a
geada queimava os pastos, a Inácia calçava umas botas que já tinham sido
beneficiadas com meias-solas e solas inteiras para um qualquer primo ou irmão.
As mãos agora
calejadas já foram jovens e cedo começaram a trabalhar para ajudar outras mãos
já cansadas de tanto lavar, engomar, cozinhar para todos que eram muitos mas
também souberam tecer sonhos de menina, bordar quimeras e desejos de mulher,
ofereceram amor em troca de nada.
Hoje, tantos
invernos já passados, as costas da Inácia ressentem-se desses frios, dos pesos
dos feixes de ervas que transportaram quando ainda os seus ossos eram tenros e
em formação.
“É a vida” que
foi dura, madrasta para uma MULHER que viveu, sofreu em silêncio, frios, secas,
infortúnios porque “há sempre alguém em piores condições”.
“São os
anos” duma vida longa, honesta, trabalhosa, difícil para quem nasceu MULHER, pobre
e “nunca passou da cepa torta”, passados entre risos e lágrimas, entre os que nascem
e são a esperança de melhores dias, os que ficam agarrados ao leme do seu
destino, entre as saudades dos que abalam para outras terras com promessas de
regresso, vivendo as lembranças dos que vão e já não voltam.
São as dores
da fatalidade de quem se acomoda, da MULHER que ama, chora, entrega-se por
inteiro e se esquece de si própria.
Eis a
sinopse da vida duma MULHER.
texto e foto de Benó
texto e foto de Benó
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3 comentários:
"“É a vida” que foi dura, madrasta para uma MULHER que viveu, sofreu em silêncio, frios, secas, infortúnios porque “há sempre alguém em piores condições”...
É mesmo assim, amiga, Benó. Não foi nem é fácil para tanta gente.
Um texto que faz pensar e comove.
Beijo grande.
Querida Benó
Inácia representa muitas mulheres que vivem e sofrem todos os dias.Por elas e pelos outros.
Um exemplo de abnegação!
Parabéns pela beleza do texto, tão real!
Beijinho
Beatriz
Tantas Inácias por esse país fora! E ainda me vêm com a falácia de que "antigamente é que era bom"!!!
Beijinho.
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