terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Uma árvore no cais

 
Foste semente caída pelo chão. Arrastada pelo vento paraste esquecida, perdida, sozinha entre as pedras. À beira do pontão ficaste e escondida permaneceste para não seres engolida pela voragem da chuva e no esgoto acabares ou no fundo do mar.

O marulhar das ondas, o gemer dos barcos, o trinar dos beijos dos namorados foram a tua companhia enquanto pequeno grão. Aos poucos, a vida descobriu-te e ajudou-te a ver o ouro do sol, o azul do céu e o verde do mar. Bastou um pouco de calor e germinaste, eclodiste, brotaste do escuro. Cresceste, enfeitaste-te de ramos e folhas, em breve serás árvore e as crianças comerão lapas e figos torrados à tua sombra enquanto as mães olham o mar e esperam o regresso dos seus homens nos pequenos barcos de ventres inchados de escamas prateadas.
 
Texto e foto de Benó


6 comentários:

Justine disse...

Belíssimo, Benó! O encantamento do constante milagre da natureza...

Graça Sampaio disse...

Que texto tão bonito e que bem legenda a fotografia!

Muito bonito!

luisa disse...

É espantoso como, nos mais improváveis lugares, podem crescer plantas. :)

Beatriz Bragança disse...

Querida Beno
Um hino a força de uma pequena semente!
Lutou e conseguiu um lugar ao sol,para mais tarde nos proteger dos seus raios!
A sua sensibilidade foi tocada pela pequena arvore em crescimento e fez brotar um belissimo texto.
Muitos parabens.
Beijinho
Beatriz

Graça Pires disse...

Uma árvore que escolheu nascer e viver à beira mar. Muito belo, amiga.
Um beijo.

Maré Viva disse...

Belíssimo texto, como é hábito, aliás.
Aqui, sim, transparece uma sensibilidade apurada e uma criatividade inata!
Gostei imenso, como gosto sempre dos seus textos.
Um beijo.