O vento, a chuva, a seca, as intempéries resultando numa erosão cuidada e meticulosa, talvez até, artística deram a estas pedras um perfil quase humano. Elas são espectadoras atentas ao que se passa no areal. Sabem quantos bagos de areia são necessários para formar uma duna, compreendem as conversas tidas entre as algas e os limos, ouvem as discussões dos caranguejos com as estrelas-do-mar, conhecem os ventos que sopram dos vizinhos desertos africanos ou aqueles outros, gelados, vindos do norte, onde moram as renas e as focas, também são maltratadas pelas fortes lufadas que chegam do sul, normalmente, carregadas de nuvens pesadas e negras. Entre elas, não perdem uma deliciosa cavaqueira sobre o Bóreas e o Nótus.
O sol,
indiferente à beleza da onda que enrola e desenrola em brincadeira com as
conchas e os mexilhões, segue a sua viagem diária perdendo-se para lá das águas
profundas do oceano.
As pedras continuarão presas ao mesmo lugar, de onde podem
dizer adeus aos marinheiros que passam ao largo rumando a aventuras que elas nunca
poderão viver; sempre no mesmo lugar, de onde assistem a grandes tempestades
mas também a belas e calmas bonanças; de onde podem extasiar-se ante os coloridos
ocasos nas profundezas do infinito oceano; sempre no mesmo lugar, até que o
gastar dos tempos as faça tombar, sem dó nem piedade, no fundo da falésia, nas
águas que agora lhes beijam os pés, elas ali estão,
num local, aqui, perto do Jardim.
foto e texto de Benó