quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Brincadeiras ao luar

                                                                                                   foto e texto de Benó

A noite tinha acabado de chegar e não viera só, tinha-se feito acompanhar da lua enorme, redonda, brilhante que lançava sombras esguias na rua pouco movimentada.

No adro da igreja brincava-se à vontade, sem receio de raptos ou desaparecimentos e a criançada olhava para aquele grande circulo prateado ainda virgem de pegadas humanas e com as mãozinhas abertas de palmas viradas para cima, dizia:
- Madrinha lua, madrinha lua dá-me um bocadinho de pão com uma sardinha crua!

Inconscientes do significado do pedido mas cientes de que da lua não vinha nada a não ser a linda luz prateada que lhes permitia as especiais brincadeiras noturnas, repetiam a frase rimada e iniciavam as brincadeiras bem distintas entre rapazes e raparigas. Elas faziam rodas e cantavam. Eles corriam e escondiam-se enquanto um outro ficava de olhos fechados a contar – um, dois, três, por aí fora, até 20.
Havia uma verdadeira movimentação atrás das árvores do adro e nas esquinas da igreja.

Não sentiam sono nem cansaço. Só a voz das mães cujas conversas tinham chegado ao fim punha termo em tanta correria. Era a hora de recolher e dormir até que o galo cantasse com o nascer do sol e lembrasse que a escola estava à espera.
O adro ficava vazio e a velha lua retirava-se por detrás de alguma nuvem passageira.

 


3 comentários:

Majo disse...

~
~ ~ Que quadro lindo, Benó!

~ Um conto real e muito original numa
prosa poética sentida e cativante.

~ Gratíssima pela partilha. ~

~ Um agradável fim de semana.

~ ~ ~ Abraço amigo. ~ ~ ~
.

Jorge P. Guedes disse...

Maria Benedita

Era assim, era, quando a magia da lua contagiava os sonhos das crianças.

Graça Pires disse...

Voltei à minha infância, amiga. Fico por lá mais um pouco...
Beijo.