Enquanto a amendoeira espera as suas flores brancas e rosadas, o campo
amarelece com a erva azeda.
Apetece-me correr por ali, molhar os pés com a
geada, apanhar um raminho destas singelas flores e enfeitar com ele, como se fosse uma fina jarra de cristal, um
pequeno frasco vazio da pomada dos sapatos que também podia servir, quando era caso
disso, para guardar as pedras de granizo que se acumulavam junto ao muro do
quintal, nos invernos em que a granizada era frequente.
Também podia fazer
grandes varas de chouriças e enfiá-las numa cana para ir vender pela rua. Era
sempre a minha avó que mas comprava por dois rebuçados ao par.
Trabalho fácil. Fazia uma
pequena incisão com a unha na parte grossa do caule e aí enfiava a parte
delgada da erva, de onde saía a flor, formando uma rodela. Enquanto carregava ao ombro a cana com os supostos enchidos, apregoava alegremente com a
minha voz de moça pequena algarvia de gema “Quem quer comprar morcelas e
chouriças?” Então, aparecia a minha cliente habitual que me comprava toda a produção.
Aconteceu há muitos, muitos anos.
texto e foto de Benó
5 comentários:
Um belo e ternurento texto.
Um abraço
Ah, esses negócios que não obedeciam às leis dos mercados e que eram celebrados com a cumplicidade das avós :)
Um delícia o seu texto. Belos tempos!
Um beijinho :)
Recordar... é viver, sempre que se queira, momentos felizes e irrepetíveis...
Adorei o seu texto, Benó, com essas recordações, tão bonitas!... Com a magia e encanto, que as boas memórias preservam...
Beijinhos! Bom fim de semana!
Ana
A recordação dos tempos que só o coração guarda... Um texto muito belo, minha amiga Benó.
Beijos
Obrigada, minha querida amiga! É preciso mesmo. Recordar apenas lembranças boas que nos enternecem como este seu texto e sufocar tudo aquilo que nos faz mal e nos destrói. Um abraço forte.
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