Um denso manto de nuvens cinzentas cobre a cidade e o frio, com
uma certa brejeirice, abraça homens e mulheres cujos corpos ainda frescos não
se prepararam para o receber e sem qualquer resguardo passam apressadamente
pela rua no desejo de chegar a casa.
O vento tornou-se bailarino com movimentos incontrolados na
execução de danças violentas e agrestes. Toma para parceiras as folhas que
arranca ao arvoredo que bordeja a alameda e quer sejam grandes ou pequenas elas
volteiam no ar, arrastam-se pelo chão, escondem-se debaixo dos carros para
reaparecerem sobre outros mais à frente.
As árvores, num erguer e baixar dos seus braços semidespidos,
imploram que o vento se acalme e, quando as nuvens grossas e pesadas se abrem
num alagamento sobre a terra sequiosa, o vento abranda e fica só o seu assobio ao
passar mais calmo, pelas esquinas.
Há o latir dos cães amedrontados, o miar dos gatos no
chamamento das fêmeas e nem mochos nem corujas se fazem ouvir nesta noite fria.
Só o vento geme e o céu chora.
Por momentos, o fogo duma lareira ajuda a esquecer a
agressividade dos elementos que reinam para lá das portas, para lá das paredes.
3 comentários:
Querida Benó
Fotografia maravilhosa do outono algarvio!
Escreveu um texto, mas de facto é pura prosa poética!
Gostei imenso das personificações do vento e das árvores.
Como escreve bem!
É sempre um prazer fazer-lhe uma visita.
Bom domingo.
Um beijinho
Beatriz
VIDA E PENSAMENTOS
Um texto belíssimo, amiga Benó. A Natureza é sempre bela mesmo quando é cruel...
Um beijo e um excelente Natal.
Um belo texto, bem ilustrado por uma grande fotografia! Bom ano, Benó :-)))))
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