quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Mata Mágica

A mata tinha manchas de sol onde as borboletas rodopiavam ao som de valsas tocadas pelo deus Pã na sua flauta mágica. Nas manchas escuras, nas sombras dos pinheiros onde a luz não penetrava, habitavam os duendes. Eram audíveis os sons das suas brincadeiras e as suas alegres risadas subiam pelo ar num desejo de liberdade mas acabavam por ficar dependuradas nas árvores e só se soltavam quando alguma pinha ou folha arrancada pelos suspiros de Éolo senhor dos ventos, tombava no chão. Muito traquinas são os duendes.
Repentinamente, miríades de pirilampos iluminaram a mancha escura e uma claridade intensa como só os pirilampos são capazes de proporcionar inundou o espaço onde as figurinhas mágicas da mata habitam.
Um gamo veloz faz a sua aparição numa corrida desenfreada. Os seus pés tinham asas e o seu peito arfava com a força própria dos grandes vencedores cujo objectivo é sempre a vitória. Passou rápido e iluminado como um relâmpago seguiu deixando atrás de si um raio de claridade que ofuscou a luz dos pirilampos.
Soube-se, mais tarde, que regressou carregado de gambuzinos para distribuir a todos que ainda acreditam em fadas.
 
 
foto e texto de Benó
 
 

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Artistas





Nem um “abre-te sésamo”, nem a maior das chaves, a mais forte ou a mais sofisticada será capaz de abrir essa boca cinzelada no duro mármore, fechadura impenetrável para uma caverna de emoções, de sonhos e desejos, que ali se encontra “esquecida”, colocada ao acaso num espaço livre,  peça olhada por muitos passantes  mas por poucos observada.

O artífice que a esculpiu que lhe deu forma de cabeça, não lhe abriu os olhos mas só delineou uma boca fechada que não contará os segredos aí preservados do querer/saber alheio. Sentimentos, recordações, sentires que nunca sairão do baú de pedra onde se encontram. Serão como pedras depositadas no fundo do rio do esquecimento.

A ferramenta que o artista empunha seja pincel, cinzel, caneta ou outra qualquer, através da mão que a segura é o transmissor dos seus mais desconhecidos anseios ou desejos guardados/camuflados no mais profundo do seu íntimo. A sua obra fala deles e deixa antever um pouco do seu autor sem que ele o queira.

Na Fortaleza de Sagres entrei, passei e senti, num dia sem data.