A manhã
acorda cinzenta com uma certa humidade no ar que o sol oculto pelo manto de
nuvens espessas não consegue secar. Os turistas passeiam-se pelas ruas da vila,
já que ir para a praia está impensável nessas primeiras horas matinais. É o
comércio local que beneficia com estas caretas do tempo. As lojas de
lembranças, principalmente, mostram bastante movimento em entradas e saídas de
gente feminina de longas pernas morenas enfiadas em reduzidos calções ou cobertas com saias rodadas
e compridas como, antigamente, só a etnia cigana usava.
Nos cafés e
esplanadas aguarda-se que o sol volte a brilhar para se desfrutar de mais uns
momentos de bronzeamento e algumas braçadas na água fresca do oceano que nos
beija.
Mas há uma loja pequenina, uma capelista, situada na
principal rua da vila que atrai a minha atenção. Vende linhas, botões, gregas e
fitas de cetim; agulhas de tricô, de croché, de coser; novelos de lã, de
algodão, de trapilho; quadrilé para
bordar, panos de loiça enfeitados com picôs nas bainhas, botinhas de bebé.
Noto com
satisfação que ainda há pessoas que gostam de fazer estes trabalhos de mãos e
que, mesmo entre os turistas, poderemos encontrar uma avó, uma tia ou mãe jovem que
acompanha a família nas suas férias algarvias e sabe e gosta de usar as agulhas e os
novelos.
Perpassa
pela minha lembrança certo grupo de senhoras que à mesa do café com esplanada
protegida do vento norte, nos idos anos 60/70, passava a tarde a crochetar e a
conversar trocando ideias sobre determinados pontos para cachecóis ou naperons
enquanto os maridos se entretinham na pesca à linha.
fotos e texto de Benó